Aquário (do latim Aquarii) carrega esse nome devido a região do céu em que o Aguadeiro (seu ícone) se encontra, conhecida como o Mar ou As Grandes Águas, pela proximidade com outras constelações associadas a criaturas e entes aquáticos, como a Baleia e o Peixes. O Aguadeiro ora é associado ao mito de Ganimedes, príncipe troiano, raptado por Zeus metamorfoseado em águia, carregado para o Olimpo para se tornar copeiro dos deuses (daí a ânfora vertendo água), ora associado a Prometeu, o titã que roubou o fogo dos deuses e entregou aos homens, num ato transgressor de ajudar a humanidade (acabando por ser punido, amarrado ao Monte Cáucaso onde lá permaneceu por 30 mil anos com o fígado esfacelado pelas bicadas de uma águia enviada por Zeus; em outras versões um abutre). O fundamental é entender que o Aguadeiro não mantém a água dentro da ânfora e a derrama, cuja metáfora é “não há espaço para as emoções e sentimentos” (esvaziamento emocional), enfatizando a natureza mental do signo. Esse é o ponto crucial a ser analisado neste texto: a Era de Aquário como fim da intimidade, dos vínculos e do amor, na concepção de Eros. Se tomarmos o glifo do signo, vemos duas ondas sobrepostas que poderiam evocar o movimento de águas caudalosas, corrente elétrica, ondas eletromagnéticas ou simplesmente a incapacidade do signo seguir uma linha reta. Duas ondas que não se tocam, correm apenas paralelamente e seguem em zigue-zague; para onde seguem? Certamente para o futuro.
Cada Era Astrológica dura em torno de 2.160 anos. Não é uma matemática perfeita ou taxativa em sua demarcação (para alguns, já estamos dentro da Nova Era ou Era de Aquário; para outros com um pé quase dentro; há que diga que somente em um século e meio chegaremos lá). Porém, como a Astrologia é uma leitura a partir do observador no planeta Terra, há de considerarmos que simbolicamente já estamos vivenciando-a. Nos damos conta com as exploração espacial (deflagrada desde o começo da Guerra Fria), as tecnologias de ponta, as conexões coletivas dinamizadas pelas redes virtuais, as lutas pelos direitos das minorias, a ênfase positivista “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” (iniciada com a Revolução Francesa). Porém, neste modelo social fica cada vez mais clara a facilidade do ser humano ir de novo à Lua e transcender os limites do nosso sistema solar do que o ser humano ser capaz de alcançar o coração um do outro.
O novo modelo aquariano de se relacionar parece não mais fazer distinção entre amor, paixão e atração: tudo aparece estar junto e misturado como se significassem uma mesma coisa. À frente, temos a amizade como referência para tudo e nunca o conceito de “amizade colorida” fez tanto sentido. A tal Nova Era não privilegia qualquer tipo de laço (vínculos não são bem-vindos): o lema que se fortalece é “ninguém é de ninguém” e fidelidade se tornará um elemento estranho, talvez a lealdade seja até admissível. “Liberdade acima de tudo”: qualquer referência a gênero perde o espaço para orientação sexual. Amor? Só o fraternal (Philos), Eros está com os dias contados. A Era Aquariana desconstrói o sentido de posse ou ciúmes traduzindo-se como “hoje estou contigo, amanhã não mais”. Relacionamentos duradouros se tornarão cada vez mais raros, talvez aqueles onde a liberdade é a tônica e cada um tenha o direito de sair e ficar com quem bem entender.
A Era de Aquário vira do avesso tudo aquilo que há 50 anos era referência social: casamento, família, inter-relações e conexões sexuais. A Nova Era admite as relações como numa roleta russa impregnadas pela ideia de que a imprevisibilidade e o fator surpresa ditam o momento. Procurando ser um pouco mais objetivo, as aventuras sexuais serão muito mais frequentes à estabilidade amorosa. A Era de Aquário coloca todos numa vitrine virtual (como no Facebook e Instagram) ou no varejo amoroso (como no Tinder e outros apps de relacionamentos). A Nova Era descarta os romances, o sentimentalismo, as conquistas e cortejos e sujeita a humanidade aos termos do “se rolar, rolou”. Ou seja, as relações terão muito mais cara de swing do que namoro. O distanciamento será a marca registrada, se você se cansar da pessoa, simplesmente a substituirá. É a Era do “quem eu beijarei ou com quem dormirei amanhã?”. Aliás, não precisar mais de usar o sexo para procriação será tendência. E, quanto menos abraços e beijos, carinho ou toques, melhor. Sinal dos tempos onde teremos verdadeiros “rodízios amorosos”. Mulheres cada vez menos afim de estabelecer vínculos com homens; homens cada vez mais próximos de sexy dolls e androides para sexo. Devo enfatizar, aliás, o fim dessa condição de “mulher e homem” ou “macho e fêmea”; a pluralidade e mistura será tamanha que será impossível distinguir sexo.
Concluindo, caminhamos para a extinção do amor na mais pura concepção venusiana e erótica. Relações serão cada vez mais líquidas (como afirma o filósofo Zygmunt Bauman em suas obras), com mulheres se autorreproduzindo, homens como “tomates na feira” (consumo e/ou descarte), o fim dos relacionamentos estáveis e dos votos de compromisso. Com a virtualização do prazer, talvez nem exista mais penetrações sexuais ou qualquer contato mais físico: com dispositivos que simulem o ato sexual, cada um (à distância) experimentará e terá sensações produzidas por programas, intimidade 100% virtualizada. Caminhamos para a Era das opções sem qualquer possibilidade de convivência sob o mesmo teto ou sob o mesmo lençol.
Adeus aos últimos românticos, toda poesia e encanto da conquista: estamos a poucos passos do fim dos compromissos e vínculos amorosos. Nunca a utilização do “NEXT” terá tanta importância como nos próximos 100 anos. Estaremos todos ligados e intimamente solitários no final das contas.