O tarô é um baralho composto de 78 lâminas (ou cartas), dividido em 2 grupos principais: os Arcanos Maiores, composto por um grupo de 22 lâminas (numeradas de 0 a 21 ou de 1 a 22) e os Arcanos Menores, composto por um grupo de 56 lâminas, distribuídas em 4 naipes (Copas, Paus, Espadas e Ouros – como no baralho tradicional), cada um com 14 lâminas, dispostas de As a 10, inclusas em cada grupo as figuras do Rei, Rainha, Cavaleiro e Pajen ou Valete. As lâminas são ilustradas com o simbolismo universal, relacionadas às imagens arquetípicas que compõem os mitos e lendas, artisticamente representadas através do conjunto de formas (geometria), cores, figuras humanas, animais e vegetais, objetos e números, totalizando em códigos especiais de acesso à Alma humana.

O termo Arcano, foi criado pelo médico e alquimista Paracelso (Phillipus Teophrastus Bombastus Von Hohenheim). O termo em latim Arcanum, literalmente significa oculto ou misterioso, evocando a ideia de um conteúdo ainda hermético que precisa ser aberto e revelado.

O Tarô reflete o homem e seu estado e esses o seu meio. Não que suas lâminas espelhem o processo em si, mas evocam o estágio em que o homem se encontra. Temos em mente aí, que sua linguagem é universal, mas no momento de ser consultado, sinalizará o processo anímico individualmente, independente das combinações que se repetirem e dos significados estabelecidos dentro do núcleo das imagens arquetípicas. Servindo como instrumento advinhatório, ele servirá apenas para vislumbrar o futuro, conectando-se aos eventos presentes e passados. Como instrumento divinatório, estabelece a relação do homem com sua alma e essa, com Deus. Embora, no dicionário os adjetivos “advinhatório” e “divinatório” sejam sinônimos, estabelece-se aí a seguinte reflexão: nem todos que advinham, divinizam e nem todos que divinizam, advinham. No meu entender, adivinhar significa decifrar de forma até mesmo leviana, algo que está oculto; já divinizar, estabeleceria a ideia de conectar com sua alma, com o universo, com o Criador. Um Tarô advinhatório, parece refletir na mente das pessoas, um mero jogo de salão para brincar de descobrir o futuro. Já o Tarô divinatório, teria assim relação com uma ponte entre o homem e Deus. Nesse processo, temos o chamado autoconhecimento.

O Tarô é um legado dos tempos para os tempos. Muitos pesquisadores vieram e já foram e outros virão, dando suas contribuições a esse interessante e misterioso estudo. A concepção purista de um Tarô que tenha nascido nos braços do esoterismo, é no mínimo, pretensiosa, pois o Tarô não pertence necessariamente a nenhuma linha de pensamento ou sistema estabelecido. O tarot, enquanto veículo livre de correlações, é um alfabeto simbólico para orientar o homem em sua jornada. Pode ter nascido na arte de um povo, comparativamente às runas, que era o alfabeto dos vikings e também seu oráculo, mas também no berço de uma civilização perdida e mesmo, na cultura e nos ritos de alguma sociedade. Muito do contexto esotérico e espiritualista, que sobreveio principalmente a partir do século XVII, deu margem à maior parte da literatura que temos sobre o tarô, que devemos considerar um legado dos pesquisadores e não considerar como uma regra para estudos ou pesquisas. Cada livro que fala sobre o Tarô, seria, por assim dizer, um tratado, uma abordagem do baralho através da ótica de seus pesquisadores, trazendo importantes toques e insights para o estudante do assunto. Mas, definir a regra de que o Tarô é só um oráculo, implicará em leviandade, preconceito e até mesmo num embotamento para vislumbrar outros caminhos que o tarot oferece. Estudar o Tarô é observar, com a mente aberta e o discernimento dirigido, todas as associações e maneiras de como pode ser utilizado, livre de determinismos ou concepções afirmativas. Vale lembrar que o Tarô é uma experiência pessoal, cada um pode criar suas próprias regras ou convenções, apenas para efeito de pesquisas e consultas de cunho pessoal. Enfim, podemos seguir até o pensamento de um ocultista e ou pesquisador, mas jamais, identificar-se com ele a ponto de não aceitar outras propostas.

Uma importante observação a ser considerada, é a escolha do baralho. Com a massificação industrial e com o aumento indiscriminado da mídia, em explorar o meio esotérico, muitas informações estão sendo jogadas no mercado, sem nenhum filtro. A exemplo, milhares de baralhos são encontrados hoje nas lojas, um mais lindo que o outro, mas distorcidos simbolicamente de seu conteúdo simbólico original. Encontramos Tarôs das Crianças, dos Orixás, dos Anjos, dos Xamãs, dos Magos, etc e tal, cada vez mais distanciados daqueles símbolos ilustrados em baralhos tradicionais como o de Marselha, de Wirth, de Waite (Rider), entre outros, desfavorecendo quem inicia na prática. Com isso, a confusão criada na cabeça dos iniciantes é grande, fortalecendo a ideia de que o tarot é aquele baralho bonito, mas longe do simbolismo universal, que acabou de ser adquirido. Não há mal nenhum se identificar com o baralho que gostamos, apenas devemos começar nos familiarizando com os símbolos e suas combinações tradicionais. Após isso, é da livre-escolha do estudante escolher seu baralho.

Não existem “lâminas positivas ou negativas” dentro do Tarô. Cada lâmina é adequada ao padrão de consciência do ser humano e definitivamente, a interpretação deve fugir da visão fatalista. Fatos “negativos ou positivos” analisados em consultas, podem trazer até efeitos contrários, pois vivemos num universo impermanente. Por isso, quem determina a interpretação é o tarólogo e não o Tarô, pois o profissional deve apenas estar “afinado ou sintonizado” com seu inconsciente e as forças superiores.