Esse pequeno artigo foi produzido a partir de um email enviado ao contato do Clube do Tarô por um visitante, no qual descreve seu receio de morrer e o uso inadequado do tarô para uma questão aparentemente inofensiva, mas que pode se transformar em grave problema de ordem emocional, psicológica e/ou até espiritual. O caso aqui descrito foi relatado na íntegra e autorizado pelo responsável pelo site.
Mensagem enviada pelo visitante no dia 20 de novembro de 2010:
“Olá. Tudo bem? Meu nome é A. e comecei a jogar o Tarot há um mês mais ou menos. Fiz uma questão, que pensando melhor agora acho que não era adequada. Perguntei se eu iria morrer em seis meses. Fiz essa questão porque tenho muito medo da morte aí retirei três cartas: “A MORTE”, “A TORRE” e “O JULGAMENTO”, fiquei com medo dessa interpretação. Por favor você poderia me esclarecer? Desde já agradeço.”
Minha resposta ao visitante no dia 21 de novembro de 2010:
“Caro A.,
Definitivamente, essa não é a melhor maneira de começar a estudar o tarô; eu prezo pela objetividade e entendo que a sua pergunta além de não ser adequada, é incabível em qualquer tipo de situação. Seria salutar, em primeiro lugar, tratar esse seu medo da morte. Procurar um bom psicólogo, terapeuta ou simplesmente apoio espiritual, todos são bem vindos. Você deve se certificar de onde vem esse seu medo (alguma perda? trauma? sofre de alguma doença terminal? ameaça de vida?). Sem essa resposta é impossível tratar o assunto por outras vias.
Morrer, todos vamos um dia. Alguns sofrem porque temem morrer dolorosamente; outros receiam morrer muito novo sem terem concluido seus objetivos; outros ainda detestam a ideia de morrerem velhos; em todo caso, diante da inevitabilidade, o tema toca cada um de forma diferente. Pela sua forma de escrever você me passa a sensação de que é muito jovem, inexperiente e tem um grande futuro pela frente. Sua preocupação é desnecessária e você deveria focar mais no agora, aproveitando saborosamente cada momento de vida.
Outro problema diz respeito a tirar o tarô para si, principalmente em casos de envolvimento emocional com a questão. Na minha opinião, você leu o que quis ler. A Morte, por exemplo, nem sempre confirma “mortes físicas”, se foi esse o arcano que mais lhe impressionou. A pergunta tem caráter do tipo “sim e não” e, ao meu ver, as três respostas foram um NÃO redondo. Agora, seja sensato, deixe de usar o tarô para questões que nada lhe acrescentam, use o tarô para você crescer interiormente, conhecer-se melhor, superar as suas próprias limitações. Ler o tarô de forma incipiente, testando em si mesmo como se fosse uma cobaia sem conhecer a fundo os arcanos “é como dar um tiro no pé”. Tenho 23 anos de prática e te digo que não aprendi o suficiente – o que dirá você em um mês. Portanto, “desencane”, viva bem a sua vida e trate o seu medo (ou obsessão) com um terapeuta, pois o tarô nessas horas só piorará a sua situação.”
Observações finais: o tarô, infelizmente, ainda é utilizado como mero recurso para saciar curiosidades pessoais vãs. A parte cabível ao oráculo deveria se destinar ao aconselhamento ou orientações e não mais às respostas tendenciosas, cujo caráter fatalista, mais apavoram do que elucidam. O exemplo acima nos mostra o quanto muitos iniciantes estão despreparados e longe de verem o tarô como um recurso de real autoconhecimento. A divinação, por mais bonita que seja (ou tenha sido), ainda é a forma mais frágil e incerta de tratarmos do futuro. Cabe a nós, tarólogos, na condição de praticantes e também instrutores, auxiliar cada pessoa que ingressa na área a não cometer erros como o descrito acima e nem fazer do tarô uma espécie de “senhor do futuro”. Em casos como o supracitado, além do oráculo mais confundir, empurrará o principiante para o abismo do medo e da angústia, roubando-lhe qualquer possibilidade de viver em paz. O tarô ainda não é levado devidamente a sério pela forma que alguns conduzem suas leituras e para alguns assuntos decorrentes. De instrumento conscientizador, reverte-se em arma capaz de mergulhar o indivíduo nas trevas de seus temores.
O mal só existe num lugar: na ignorância humana.