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Como Funciona o Arcano ‘Regente’ do Ano?

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Assunto deveras controverso, discutido entre pesquisadores da área, tal como ocorre no estudo sobre a regência planetária de cada ano, cuja tabela cumpre uma sazonalidade de ciclos de 07 anos, com um regente maior que se altera a cada 36 anos. Porém, quando enveredamos no estudo do tarô, o maior debate gira em torno da matemática ou derivação do(s) arcano(s) em torno do milhar do ano. Nesse ponto, não me preocupo tanto se a regência se originará da dezena relativa ao ano ou da soma final dos algarismos do milhar: a grande confusão acontece quando há uma tentativa de explicar como o arcano atuará ao longo do período.

Antes de tudo, é preciso entender o que significa “regência”. Em poucas palavras, o regente é aquele que rege, governa ou dirige. No sentido mais amplo, regência significa, entre outras palavras, DIREÇÃO. Tomemos como exemplo um monarca, cuja regência envolve toda uma sociedade, do qual depende das ações políticas que qualificarão sua governabilidade. O monarca é um centralizador, dele se originam decisões sociais, militares e estratégias para manutenção e proteção do seu reinado. No entanto, o monarca não tem poder absoluto sobre o povo, cujas manifestações podem, inclusive, ameaçar a governabilidade do rei ou imperador. Ou seja, apesar da normatividade imposta pelo monarca, é o povo, ao final, que decidirá o destino do governante, tal como aconteceu na Revolução Francesa e no fim da monarquia do Brasil, por exemplo. Tomando tal exemplo, um arcano não tem poder de decidir nada, pois, somos nós quem criamos a nossa realidade.
Então, como funciona o arcano regente do ano? Ele dá direções, cabe a nós segui-las ou não. Esse é o primeiro e fundamental passo para se entender que temos liberdade de escolha. Tal como é expresso no axioma astrológico “astra inclinant, sed non cogunt” ou seja, “os astros inclinam, mas não determinam”, baseando-se no entendimento simbólico, podemos parafrasear “arcana inclinant, sed non cogunt” (os arcanos inclinam, mas não determinam). É puro e simples o entendimento baseando-me nessa premissa: o tarô não decide a realidade, ele apenas a simboliza, dramaticamente. Caso contrário, não haveria sentido algum consultar o tarô já que tudo estaria previamente determinado, sem qualquer chance de liberdade de escolha. Claro que há eventos acima de nosso arbítrio, produtos do meio ou relacionados a ações de terceiros, mas, ainda assim, podemos, em certas condições, aceitar ou não tal influenciabilidade.

O arcano regente do ano é como uma estação. Sazonalmente enfrentamos duros invernos ou intensos verões, sabemos que poderão ocorrer chuvas mais fortes em certas épocas, falta d´água ou secas, epidemias, temperaturas muito altas ou baixas, enchentes, vendavais, no entanto, entramos e saímos a cada ano cientes de que a realidade é essa. Sim, o El Niño a cada década fica mais intenso, estamos contribuindo com as nossas ações para intensificar os solstícios, nesse caso. O mesmo ocorre com os arcanos regentes. Mas, não podemos justificar os arcanos pura e simplesmente pelos eventos concentrados num ano. Porque, se assim fizermos, teremos que reunir uma gama de acontecimentos comuns aos ciclos que se repetem ao longo das décadas para, absolutamente, definirmos sua atuação. E não é assim que a coisa funciona. A esfera simbólica, tal como acontece com o regente planetário do ano, dá o tom do ano regido. E, nessa plataforma é que a coletividade irá trabalhar. Reduzir o arcano a eventos aqui e ali é forçar a barra. Porque, ao final, se perceberá que os eventos aconteceram em outras épocas, independente do arcano X ou Y reger o ciclo.

Afinal, como o arcano regente atuará? Ele será uma espécie de molde, de forma, para a consciência coletiva. Digo, coletiva, porque temos os arcanos que regem, a partir da data de nascimento, o ano individual. Assim como também acontece com as regências para um país, uma cidade, uma instituição e por aí vai. Não dá para nos valermos da regência anual para justificarmos ações unilaterais. Estamos falando de um nível de arquetipalização, ou seja, de algo que está atrelado a um padrão de comportamento e instinto humano. Se para uns o ano de 2016 será o “Eremita”, e para outros o ano será regido pela “Torre”, estou querendo dizer que a matriz, o filtro utilizado se dará através da dinâmica simbólica desse arcano. Metaforicamente, é como um folião que usa determinada fantasia de carnaval, expressando aquela persona, no entanto, ele não é a o que a fantasia representa, essa é apenas uma máscara para expressar uma tendência de comportamentos naquele momento.
Então, caro leitor, se você acha que o fato de uma bomba explodir ali, uma tempestade acontecer acolá, alguém ascender ou declinar que isso se dá devido a regência arcana, ledo engano: guerras, atentados, mortes, tempestades, terremotos, ganhos e/ou perdas sempre acontecerão, independente desse ou daquele arcano. Como a consciência coletiva operará em prol de seu progresso (ou retrocesso), aí sim, podemos entender o mecanismo simbólico por trás do arcano em si. Entender essa premissa é entender como um símbolo opera. O arcano jamais ditará alguma coisa. Ele apenas nos mostrará para onde certas energias estão se encaminhando.

Dito isso, se para você o arcano do ano é X ou para o outro é Y, o importante é entender qual o significado disso para você. Ninguém interpreta um símbolo exatamente da mesma forma, da mesma maneira que uma imagem onírica pode ter significados diferenciados para sonhadores diferentes, de acordo com o seu momento psíquico ou, se preferir, fase de vida. Buscar o aspecto elevado (numinoso) do arcano regente do ano é a meta e não ficarmos a mercê dele, como muitos religiosos o fazem ao tratar do relacionamento com o plano divino (aguardando Deus tomar a dianteira), esperando os eventos relativos impotentemente, sem condições de superarmos os paradigmas (impostos mais pelas crenças do que pela realidade). Os símbolos são produtos de nossa natureza e não o contrário; é o nosso padrão de consciência que ditará as “regras do jogo”. O mesmo pode ser aplicado ao regente planetário, orixá, número, etc.
Texto de Giancarlo Kind Schmid (10-01-2016).

Giancarlo Kind Schmid
Giancarlo Kind Schmid
Vivendo em meio aos livros desde criança na biblioteca de meu pai, despertei interesse logo cedo por Literatura e História. Aos onze anos, comecei a me identificar com História Antiga, mais precisamente Egiptologia e afins. O primeiro contato com o mundo esotérico surgiu das pesquisas feitas com Piramidologia e estudos sobre energia cósmica.

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