Reuni aqui algumas dicas que considero valiosas para o desenvolvimento do estudo e trabalho com o tarô. Sugiro que as leia com atenção, de preferência mais do que uma vez.
1. Preferencialmente, inicie os estudos de tarô pelo simbolismo das lâminas originais (baralhos clássicos); entrose-se com a simbologia, estude-a, entende-a, assimile-a. Um bom livro para começar é Dicionário de Símbolos de Alain Gheerbrant e Jean Chevalier, da Ed. José Olympio.
2. Uma vez compreendida a estrutura simbólica, defina qual baralho vai trabalhar. É preciso simpatizar-se com ele, deixar que ele “fale com você”. De nada adianta ter um baralho caro ou bonito, se ele não estimular a leitura. É preciso gostar do baralho, se familiarizar com ele. Mas, caso opte por algum baralho temático ou transcultural (egípcio, mitológico, Robin Hood, arturiano, céltico, escandinavo, etc.), estude a estrutura dos mitos ou enredos envolvidos, lembrando que eles não explicam a simbologia dos arcanos, mas estabelecem paralelos.
3. Se você optou estudar o tarô pela via ocultista (Mebes, Papus, Lévi, Zain, Waite, Crowley, Wirth, Ouspensky, etc), lembre-se que o estudo tem uma aplicação melhor quando o praticante está inserido numa escola iniciática ou alguma ordem esotérica. Não funciona usar linguagem hermética com um consulente, que só está interessado num fim, digamos, “mundano”. Cada coisa em seu lugar: esqueça o hermetismo e use a linguagem “feijão com arroz”; vá ao cerne da questão e dê a resposta necessária.
4. Já que estamos a abordar o tema “linguagem”, evite se explicar demais numa interpretação ou usar subterfúgios, do tipo “Aqui fala de silêncio porque a Papisa está dentro do Templo, segura o livro…” Não funciona! O consulente quer obter uma resposta ou orientação e não está nem aí para o simbolismo das lâminas, a não ser que curta.
Evite também ser prolixo, dando voltas e voltas na análise para chegar à resposta. Quanto mais queremos explicar, mais inseguros estamos, pois provavelmente queremos convencer a pessoa daquilo que estamos a abordar.
5. Dê preferência ao método de tiragem “europeu” (um Maior + um Menor por casa) – no mundo, hoje, a maioria das pessoas usa essa metodologia. Usar ora um Maior, ora um Menor por casa confunde a leitura, pois são dois grupos distintos de arcanos, apontando para abordagens diferentes.Logo, evite o sistema “americano”. No máximo, o sistema “italiano” (em desuso) no qual é utilizado um Maior + dois Menores por casa.
6. A forma de embaralhar, cortar, distribuir, normalmente é pessoal. Não há “receita de bolo” para tal. Assim como “consagrar” o baralho, realizar rituais para energizá-lo, não deixar que as pessoas toquem o mesmo, tudo isso é pessoal e o tarô independe de tais regras “fabricadas”, oriundas do credo de cada um.
7. Se optar trabalhar com arcanos invertidos, tenha em mente que tipo de atribuição dará a essa configuração. Antigamente, a inversão dos arcanos (sugerida por Eteilla), gerava a inversão dos atributos da lâmina. Hoje, isso está em desuso, pois sabemos que os símbolos não tem polaridade e o que vai dar a um arcano uma atribuição “positiva ou negativa” é a combinação com outro arcano e a casa do método onde ele cair. Tenho uma visão particular quanto à inversão dos arcanos, sem alterar seus significados. Por isso, se usar, defina antes o que vai ser atribuído.
8. Sempre chamo a atenção de todos, quanto a estabelecer as regras e convenções antes de cada análise. Fazer uso do tarô para depois convencionar algo, simplesmente não funciona. O tarô segue a intenção de quem o utiliza, logo, ele é manipulável e altamente flexível. Existem convenções universais e pessoais: a 1ª, normalmente aponta para um consenso geral quanto à viabilidade da regra; o 2º caso, a convenção pode funcionar só com a pessoa. Nos dois casos, familiariarize-se com a coisa.
9. Conheça muito bem o método que trabalhar, esmiúce os significados de cada casa, leia, indague, troque opiniões com colegas. O método é a fôrma da leitura. Usando um exemplo, imagine que quer fazer um bolo (leitura). Você precisa dos ingredientes para fazê-lo (baralho escolhido, abordagem, técnica, etc.). Precisa saber como dosar cada ingrediente (conhecimento dos arcanos). Mas, para prepará-lo, precisa de uma forma, um recipiente para colocá-lo (método). Se alguns destes passos falha, ou o bolo sola (ou a tiragem “vai para o saco”). O método, tal como a forma, tem que comportar o bolo, senão, ele não sai bonito. Logo, para cada bolo, uma forma diferente (para cada leitura, um método especial).