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Segundo o poeta Fernando Pessoa, uma das premissas para a boa relação com o símbolo é a simpatia. Isso se evidencia quando tratamos da escolha de um certo baralho de tarô. Alguns temas nos seduzem imediatamente, outros rejeitamos instintivamente, o fato é que o baralho que escolhemos para nossos atendimentos fala muito de nós. Pesquisando alguns deles na ‘Encyclopedia of Tarot’ do Kaplan e em alguns sites da rede, cheguei a um nicho de edições que, se não poderemos chamar de sinistras, são no mínimo sombrias e trazem consigo uma arte macabra. São baralhos considerados góticos (em sua maioria), cujas temas envolvem demônios, zumbis, espíritos, sombras, esqueletos e monstros diversos. Não julgo aqueles que escolhem trabalhar com tais baralhos, mas penso no impacto causado em alguns consulentes. O baralho é a ponte escolhida entre o taromante e o consulente, é importante que essa estrutura seja simpática, também, àqueles quem atenderemos.

O divino faz baixar os olhos, o sagrado faz erguer a cabeça. O filósofo francês Regis Debray (1992) afirma que diante de toda imagem – foto, quadro, estampa, plano – é feita a pergunta: para que o autor ergueu sua cabeça? (p. 84, 1992). Comenta que no século XX a imagem foi dessacralizada junto com seu autor. A imagem é mais contagiosa do que a escrita porque ela no lugar de dizer, mostra. Exemplifica que não haveria Cristo sem a imagem, nem pátria sem bandeira. A imagem movimenta as pessoas e, para Debray, é fonte de energia e meio de ação. Tendo uma eficácia simbólica lhe é atribuído um poder tal como o de ideia força, como de uma imagem-força que atinge nossa sensibilidade e pode ter o efeito de modificar nossa conduta e provocar sensações fortes dentro do corpo. O segredo da imagem é sem dúvida a força do inconsciente em nós. (p. 155, 1992).

Para Jung (1988), a vida se manifesta em emoções e idéias simbólicas. Além disso, o homem ocidental perdeu valores espirituais e morais – ideias forças dominantes – desencadeando desorientação e medo. Ele não participa dos acontecimentos naturais que antes tinham sentido simbólico relevante. Todos esses valores e costumes desaparecem no seu inconsciente, e essa perda é compensada através dos símbolos das imagens oníricas. Jung considera que a vida simbólica é uma necessidade vital para a alma, pois para esse autor, os arquétipos são algo vivo que aparecem como imagens e emoções que são carregadas de numinosidade – energia psíquica – e de dinamismo, por isso, produzem consequências em nossa vida. A compreensão das imagens dos arquétipos, segundo ele, pode contribuir para o processo de individuação, pois as imagens simbólicas têm um sentido, e ainda há muito que conhecer sobre elas.

Compreendendo que o tema que reveste um determinado baralho de tarô é um invólucro simbólico, referenciado pela arte do seu autor, a escolha deste baralho dirá um pouco de nós. Suas imagens se destinam a sintonizar, sutilmente, a psique do praticante com a de seu consulente. Mas, essa ponte deve se revelar confortável para ambos, pois, no tocante ao mundo simbólico, as imagens devem também estimular e sugerir ao consulente, não só ao seu leitor. Neste ponto, precisamos refletir sobre a importância e o peso de certas composições simbólicas no processo de mapeamento psíquico.

Alguns baralhos contemporâneos apelam para a eroticidade, para o sombrio, integrando símbolos e imagens que, apenas ao olhar superficial, causa algum tipo de impressão desconfortável.

Outros baralhos integram temas infantis que, mesmo que cumpram o seu papel, deixam dúvida sobre o propósito do trabalho. Penso que, uma leitura com um Hello Kitty Tarot ou Barbie Tarô deve ser explicada devidamente ao consulente, para não soar, no mínimo, estranho a quem nos procura para uma orientação. O mesmo vale para os tarôs cujas imagens sugerem sexo explícito ou trazem imagens macabras. Nenhum tarô deixará de dar o seu recado, mas, mal comparando, o mais inteligente dos homens vestido como um mendigo, ao penetrar numa universidade, poderá, simplesmente, ser enxotado, antes mesmo que abra a boca.

Fiz uma seleção de dez baralhos que considero macabros (ou pertubadores) em sua simbologia e que, causam sensações diversas em seus portadores. O pioneiro, com essa característica, foi o Thoth Tarot (do mago Aleister Crowley) que, até hoje, provoca simpatia ou antipatia imediatamente em quem trava contato com ele. Mas, creio que muito da resistência que há por trás dele se deve à má fama do próprio magista, pois as imagens não são tão perturbadoras, em si. De qualquer forma, a simbólica que há por trás desse tarô é muito significativa e impressiona por sua composição. Alguns dos baralhos escolhidos tem caráter explicitamente satânico, outros, de certa forma, parecem incorporar uma certa ironia ao revelar espíritos ou zumbis, mas nenhum destes deixa de nos chamar a atenção. Vamos à seleção!

Abysmal Tarot (Tarot de L´Abime)

O “Tarô do Abismo” trata-se de um baralho alternativo, de qualidade, composto por 22 arcanos (mais uma carta extra chamada Abigor) desenhados por dez artistas diferentes, cujo tema é o “senhor das trevas” nas suas diversas facetas, aspectos e formas diabólicas. É uma publicação francesa com apenas 333 exemplares (alguma relação com o número 666, correto?! Algo meio demoníaco?)

Alchemical Wedding Tarot

O “Tarô do Casamento Alquímico” é um baralho de 22 arcanos, de cartas grandes (13 x 9 cm), seguindo a numeração da escola inglesa (8 para a ‘Força’). Sombrio, toda a arte é feita a partir de foto-colagens em tom sépia, como se reproduzisse os nossos pesadelos. As figuras meio humanas, meio animais, algumas deformadas, aparecem, em sua maioria, nuas e mascaradas.

Baphomet Tarot (H. R. Giger Tarot)

Giger é um artista plástico suíço, idealizador do famoso alienígena da série “Alien”, tendo criado, também, algumas capas de discos para famosas bandas de rock. Seu estilo inigualável de arte hiper-realista (chamada por ele de “biomecânicos”), permitiu-o a idealização desse baralho que é chocante e perturbador, no mínimo. Chamado de “Tarô de Baphomet” (22 arcanos maiores), foi publicado junto a uma obra de teor ocultista, cujo autor se chama Akron. Segundo Ginger, “é um baralho para lidarmos com a nossa própria sombra”.

Dark Grimoire Tarot

Composto por 78 arcanos, o “Tarô Grimório das Sombras” baseia-se em textos mágicos, de ficção e lendas envolvendo o Necronomicon e outros grimórios. Segue a numeração clássica do tarô (8 para a “Justiça”), com uma estrutura familiar a todos os tarólogos, mas suas imagens evocam os terrores e tormentos da alma humana, representadas por demônios e espíritos ameaçadores.

Ghosts and Spirits Tarot

Lisa Hunt, a autora desse baralho, é conhecida por outros trabalhos como “The Fairy Tale Tarot”, “Fantastical Creatures Tarot”, “Animals Divine Tarot”, “Shapeshifter Tarot”, “Celtic Dragon Tarot”, “Celestial Goddesses”, com seus traços e estilo característico. O “Tarô dos Fantasmas e Espíritos” nos reporta ao ‘além túmulo’, cujas imagens envolvem entidades, espíritos de locais mal assombrados, aparições, espectros e um pouco do universo dos mortos.

Ghotic Tarot

Desenvolvido a partir de fotos (tratadas com filtros) de monumentos, capelas e tumbas de cemitérios, com um elemento a mais que caracterizará cada um dos 22 arcanos maiores desse tarô gótico idealizado pela fotógrafa Leilah Wendell. As imagens transmitem um ar de tristeza, luto e angústia.

H. P. Lovercraft Tarot

Reunindo os 78 arcanos, o baralho de D Hutchinson é todo em imagens no negativo em tom sépia, com ilustrações baseadas nas obras do escritor de ficção científica e terror H. P. Lovecraft. Alguns arcanos sugerem ações de magia, vudus, vampirismo e necrofilia.

Tarô Carbônico

Destaque para esse baralho nacional desenhado pelo magista Adriano C. Monteiro que utilizou lápis e carvão para criação dos 22 arcanos maiores, acompanhado por um livro do autor. Em tom preto e branco, suas imagens não são tão assustadoras, se não fosse pelo fato dos pequenos detalhes em vermelho terem sido pintados com sangue menstrual na arte original. É uma ode ao ocultismo.

Wormweird Tarot

Esse tarô criado por George Highham, de vivo colorido, traz 79 arcanos (com uma carta extra) e incorpora um estilo romântico gótico, com imagens de esqueletos, demônios, vampiros e outros monstros, feitos em esculturas de cera especialmente para a fotografia, em ambientes à moda vitoriana. Como é descrito: “sob o efeito do absinto, uma descida às terras vitorianas inimagináveis, onde pestes, magia negra e monstros coexistem”.

Zombie Apocalypse Tarot

Há um outro tarô com motivos de “morto vivos” que considero menos ‘chocante’ (Zombie Tarot de Paul Keple, criador do Housewifes Tarot), mas preferi destacar esse, em particular, por ser realmente assustador. O ‘Tarô do Apocalipse Zumbi’ de Joe Frost acompanha a estrutura do Rider Waite com uma carta a mais (‘undeath’ ou ‘imortal’) e suas imagens (bem realistas) trazem cenas de seriados e filmes envolvendo o tema “zumbis”. Os arcanos trazem os mortos vivos e muito sangue, numa atmosfera a la “The Walking Dead” ou “Resident Evil”.

Bibliografia
DEBRAY, Regis. Vie et Mort de l´Image. France: Gallimard, 1992.
JUNG, Carl Gustav. Vida Simbólica – vol I – Obras Completas (vol XVIII/1). Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 1988.
LAZAROTTO, Nina Lúcia Moojen. Os Efeitos das Imagens na Saúde: Imagoterapia. Disponível em: http://br.ning.com
PESSOA, Fernando. Mensagem. Coleção A Obra-Prima de Cada Autor. Editora Martin Claret, São Paulo, 2007.

Giancarlo Kind Schmid
Giancarlo Kind Schmid
Vivendo em meio aos livros desde criança na biblioteca de meu pai, despertei interesse logo cedo por Literatura e História. Aos onze anos, comecei a me identificar com História Antiga, mais precisamente Egiptologia e afins. O primeiro contato com o mundo esotérico surgiu das pesquisas feitas com Piramidologia e estudos sobre energia cósmica.

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