Descubra seu
ARCANO PESSOAL
Nossos
CURSOS
Whatsapp:
(24) 99227-2726
Área do Cliente

|

Saturno e Plutão em Capricórnio: A Catábase Humana

Ano Novo Astrológico 2020 – O outono no hemisfério sul e a questão da saúde.
abril 5, 2020
Coringa: A trágica trajetória do Louco
setembro 27, 2020

Jornada do Herói e sua passagem pelo abismo Ilustração em www.medium.com

A explosão do Covid-19 se deu exatamente na conjunção do planeta Saturno com Plutão no signo de Capricórnio decretando o fim de um importante ciclo da jornada humana. De acordo com o mitólogo Joseph Campbell, no rito da Jornada do Herói, para cumprir certa missão, o semideus necessita atravessar o ponto mais baixo da roda do destino seguindo pelos reinos das sombras (Xeol, Hades, Inferno, Hel, etc.) para selamento de sua iniciação mística e consequente transformação.

Jornada do Herói e sua passagem pelo abismo
Ilustração em www.medium.com

A Jornada do Herói e sua passagem pelo abismo Ilustração em www.medium.com Dá-se o nome de catábase a descida aos reinos sombrios. O processo envolve sua morte simbólica como humano para apoderamento de sua natureza divina. Uma série de provas e desafios são impostos em seu caminho como o enfrentamento de monstros ou conquista de certos tesouros; às vezes sua descida coincide com o resgate de sua amada (Orfeu) ou purificação espiritual (Odin). Para tanto, precisa “despir-se” de sua antiga personalidade e aceitar o mérito transformador de um novo ser ressurrecto e transmutado. Esse ciclo está em paralelo com a experiência alquímica, onde destacam-se o nigredo (matéria escura) e putrefactio (apodrecimento) para conquista de uma matéria mais pura e solar (citrinitas, o “despertar”).

Não há como descer ao Reino dos Mortos e voltar ileso se não for pelo controle do tempo ou sacrifício (Saturno) e/ou ingresso pelas mãos de um deus ou divindade sombria (Plutão). A humanidade parece se deslocar em direção ao processo restaurador/transformador, mas ao atravessar o umbral, vidas são tomadas como moeda (como no caso de Orfeu ao perder Eurídice e Perséfone ao ser raptada por Hades). Esta barganha simbólica se repete de uma maneira moderna no filme “Vingadores” (“Guerra Infinita” e “Ultimato”) na conquista da Pedra da Alma para a manopla do infinito (“uma alma por outra alma”).

Orfeu e Eurídice. Pintura de Edward Poynter

O indicador do Covid-19 como agente saturnino-plutoniano se expressa através de duas naturezas: na sua forma saturnina fez o mundo parar e levar-nos a repensar nosso tempo e, como agente plutoniano, um elemento invisível a olho nu (Plutão se munia de um elmo para não ser visto) e aterrorizante (medo e terror são características plutonianas). A chave da catábase humana para um novo passo e, ouso dizer, um “restart” no inconsciente coletivo, teve como recurso um agente menos provável.

É sabido que as discussões sobre a sustentabilidade humana envolvem temas como mudanças climáticas, escassez de alimentos, catástrofes em grandes proporções ou mesmo um grande bólido contra o planeta; mas se tratando de Plutão, a natureza quis dar-nos uma lição sobre algo menos provável ou, talvez, menos esperado. A utopia humana de controle sobre as leis naturais nos tornou alvos fáceis de um corpo pequeno em tamanho, mas poderoso em ação. Achávamos que estávamos preparados para enfrentar uma epidemia ou pandemia com tanta parafernália tecnológica e avanço médico/científico, mas Plutão é uma força tamanha em sua representação que um elemento invisível nos transformou em prisioneiros domiciliares. A coisa funciona como “Plutão dá o susto, enquanto Saturno encarcera”. Por sua vez, Saturno veio mostrar à humanidade que não somos donos do tempo. De repente, “por espontânea pressão” entramos de férias de nossos afazeres e ritmo alucinado de vida. Tememos perder tempo e recursos. Saturno e Plutão não estão nem aí.

Na jornada do herói o protagonista precisa deixar algo para trás, para conseguir encontrar a saída do reino das sombras. O que o Covid-19 quer que deixemos para trás? E o que nos transformaremos após o processo de anábase (retorno à superfície)? A morte como parte da atividade saturnina (o tempo é cruel, o alfanje de Saturno é afiado, tudo é finito nesse mundo) e o impacto plutoniano sobre nossas vidas (morre-se não fisicamente, mas psicologicamente), traz à tona a intenção dessa fase como resposta aos nossos anseios (esperávamos ansiosamente um apocalipse, enfim, ele chegou). O que faremos com isso? O aprendizado da falta de tempo para voltarmos o olhar para o humano é uma das lições; você não leva nada para além-túmulo senão memórias, experiências, sentimentos e sensações. O herói é consagrado (com+sagrado) após sair da umbra tenebrosa e deve completar seu rito de passagem. Nós descemos, só resta subir. Mas, lembrem-se: “uma alma por outra”.

Na Divina Comédia de Dante Alighieri, o próprio autor segue ao lado de Virgílio em direção aos 9 círculos infernais; a dupla atravessa caminhos tortuosos até chegar ao último círculo (onde reside Lúcifer) e onde são castigados os mais desprezíveis dos criminosos: os traidores. O próprio Lúcifer se encarrega de torturar essas almas desprezíveis. Somos essas almas a sofrer duras penas: traímos o planeta pelo consumo, traímos o amor pelo dinheiro, traímos nosso tempo pelo trabalho. Simbolicamente estamos no último degrau de decadência humana, só nos resta, então, a subida de volta.

Dante e Virgílio no Inferno Dante e Virgílio no nono círculo do Inferno. Pintura de Gustave Doré

Nossa catábase moderna é o mito de uma humanidade que de desumanizou. Então, quantas almas custa nossa “purificação”? Tivemos várias chances de nos consertarmos ao longo da história: peste negra, bubônica, gripe espanhola, tifo, cólera… O que aprendemos desde lá? Continuamos a descer pelos círculos infernais sem nos darmos conta de nossa decadência humana e moral. Afinal, quanto maior o peso da matéria a qual nos submetemos por nossos desejos e ambições, mais pesada se tornou nossa jornada. Para subirmos de volta, deixaremos o peso para trás e sentiremos na pele o flagelo econômico. Aqueles que precisam de menos terão mais facilidade de “se safar”. Ninguém chegará à superfície o mesmo, precisaremos dar nossa cota de sacrifícios. Saturno é uma divindade exigente a ponto dos romanos criarem as Saturnálias realizando festins e banquetes para agradarem o velho deus: para receber, é preciso antes dar. Já Plutão não contava com templos e era temido em sua representação. Quem quisesse agradá-lo, as ofertas eram depositadas nas entradas de cavernas ou cavidades, para ter uma “boa morte” e não contar com o mau humor da divindade que, por muito pouco, condenava as almas ao Tártaro. O Deus do Velho Testamento parece ter ressurgido com força nos últimos dias: zangado, querendo punir e se vingar da humanidade. Porém, cada um tem seu Saturno e Plutão posicionados em seu mapa, e só há um verdadeiro juiz nessa história toda: nossa consciência. Covid-19 carrega, não à toa, o número arcano do “Sol” e nos convida a enxergar “a luz no fim do túnel” – nos tornamos uma grande Sombra coletiva, é hora de acordar! Todos nós perderemos e também ganharemos com isso, mas a vida espera que aprendamos a dar valor de verdade a ela sem nos maltratarmos, maltratarmos o próximo e maltratarmos o planeta. Sigamos em direção à saída!

Comments are closed.

Enviar Mensagem
Deixe-me por escrito o assunto ou questão de seu interesse.